sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Pueril


Queria poder viver da arte de escrever

escrever palavras bonitas

que reacendessem no coração dos homens

o sentido da vida,

da partilha,

dos laços de fraternidade.

Gostaria que minha caneta

fosse fiel aos meus pensamentos

ou que fosse mesmo além deles

para desnudar o que ainda

não vejo claramente.

Que pudesse compartilhar

com o mundo

o momento da criação

numa versão menos opaca,

mais vívida e feliz.

Queria que nesses momentos,

as idéias fomentassem em algum lugar da criação

apenas os bons momentos,

as faceiras lembranças

dos tempos em que andávamos descalços e

lambuzáva-mo-nos a tarde inteira

com o rico suor das traquinagens infantis.

Ou onde o choro se justificava apenas

em função do dente perdido

ou das quedas motivadas

pelas alegres "piras"

com os mesmos amigos.

E que aflição

era apenas a espera

pelos presentes natalinos.

Seria bom,ainda,

resgatar aquela velha crença

de que os pais são pra sempre e

de que a única obrigação

é acordar cedo

e se comprometer com o vasto quintal,

cheio de árvores, galinhas

e muitas possibilidades.

Seria bom não crescer...

Não conhecer o outro lado do muro...

Porque quando transpomos aquela barreira...

nunca mais seremos os mesmos...

O que antes era novo e motivador

tornou-se um mundo de possibilidades,

de escolhas

nem sempre fiéis aos nossos desejos infantis.

Depois do muro temos, de fato, um mundo

mas tão diferente daquele nosso quintal...!

Os desafios não se resumem mais

às inocentes competições pueris...

e, ao mesmo tempo

que as possibilidades se multiplicam

nossas opções morais se estreitam...

Por isso escrevo,

para alar minha realidade

para afrouxar essas mordaças,

para libertar minha alma

quando sei que ainda não chegou sua hora.

Escrevo para me permitir voltar ao tempo

em que meu mundo era tão vasto

que cabia no pequeno espaço

do meu quintal...!

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