Queria poder viver da arte de escrever
escrever palavras bonitas
que reacendessem no coração dos homens
o sentido da vida,
da partilha,
dos laços de fraternidade.
Gostaria que minha caneta
fosse fiel aos meus pensamentos
ou que fosse mesmo além deles
para desnudar o que ainda
não vejo claramente.
Que pudesse compartilhar
com o mundo
o momento da criação
numa versão menos opaca,
mais vívida e feliz.
Queria que nesses momentos,
as idéias fomentassem em algum lugar da criação
apenas os bons momentos,
as faceiras lembranças
dos tempos em que andávamos descalços e
lambuzáva-mo-nos a tarde inteira
com o rico suor das traquinagens infantis.
Ou onde o choro se justificava apenas
em função do dente perdido
ou das quedas motivadas
pelas alegres "piras"
com os mesmos amigos.
E que aflição
era apenas a espera
pelos presentes natalinos.
Seria bom,ainda,
resgatar aquela velha crença
de que os pais são pra sempre e
de que a única obrigação
é acordar cedo
e se comprometer com o vasto quintal,
cheio de árvores, galinhas
e muitas possibilidades.
Seria bom não crescer...
Não conhecer o outro lado do muro...
Porque quando transpomos aquela barreira...
nunca mais seremos os mesmos...
O que antes era novo e motivador
tornou-se um mundo de possibilidades,
de escolhas
nem sempre fiéis aos nossos desejos infantis.
Depois do muro temos, de fato, um mundo
mas tão diferente daquele nosso quintal...!
Os desafios não se resumem mais
às inocentes competições pueris...
e, ao mesmo tempo
que as possibilidades se multiplicam
nossas opções morais se estreitam...
Por isso escrevo,
para alar minha realidade
para afrouxar essas mordaças,
para libertar minha alma
quando sei que ainda não chegou sua hora.
Escrevo para me permitir voltar ao tempo
em que meu mundo era tão vasto
que cabia no pequeno espaço
do meu quintal...!
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