quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

4 de dezembro

Hoje, pela manhã, lia no café uma reportagem do jornal local, por indicação de minha mãe, intitulada Cidade e Memória. O jornalista narrava de forma conotativa a história de três quase seculares irmãs (antes quatro) na preservação de sua história de vida em um velho casarão – até bem conservado – erguido no início do século passado (1909) numa das principais avenidas de minha cidade. A matéria, recheada de “causos” e fotos me instigou a fazer uma visita a essas “guardiãs” da própria história. Se a visita se concretizar prometo dedicar longas linhas a respeito dessa experiência e, se elas me permitirem, tornar-me-ei uma presença perene em suas vidas.
O certo, é que essa matéria mexeu comigo e me fez pensar no real significado da vida. Acredito que demoramos demais para identificar as coisas que realmente são necessárias à nossa existência. Parece mesmo que esquecemos como o tempo aqui é efêmero para protocolos e insistimos em refazer os mesmos caminhos, usando os mesmos artifícios, as mesmas fórmulas e culminando, obviamente, nos mesmos erros.
Ultimamente tem aflorado em mim uma inquietude constante, sinto-me quase um vulcão prestes a entrar em erupção. Noto a necessidade de fazer algo, de que algo me falta, entretanto, não saberia dizer o quê... Quem sabe essa visita não me mostre o caminho? O certo é que essa semana promete...! Tantas coisas novas a aguardam...
Sinto-me como um juvenil no primeiro dia de aula na nova escola: as mãos suam, o lábio resseca, um frio constante refrigerando as entranhas, ulcerações, em uma palavra: ansiedade!
O motivo de todo esse rebuliço é a chegada de alguém especial e a promessa de cenas e sensações ímpares – refiro-me a uma visita, um pouso breve em terras paraoaras de um descendente dos lusos conquistadores que, sem saber, guarda em si, análogo, as mesmas insígnias daqueles outrora desbravadores da rica floresta, perdida entre os muitos rios de minha amada terra natal. Sua chegada poderá representar a “ocupação” de terrenos ainda virgens e pouco explorados como, também, o despertar de demônios que jaziam adormecidos em um canto qualquer de minh’alma.
Serão tempestades ou bonanças que nos aguardam? Concretudes ou rupturas? Encantos ou realidades? Yin ou yang? Bem, isso só o tempo dirá. Por hora é melhor fechar o jornal, engolir o café que repousa no fundo da xícara, afagar um beijo suave na envelhecida face de minha mãe, fazer um cafuné na Paris e colocar os pés fincados na realidade. Há dez passos da porta o mundo me espera e ele não tem tempo a perder...

Universo Paralelo

Um espírito demasiado criador não consegue, por mai que tente, ficar com os pés fincados ao chão.
É difícil conceber a idéia do estável, do perene e do constante quando se é inconstante, quando se deseja mais do que as mãos conseguem segurar
O mundo não é estático. Por que as pessoas deveriam ser? Mas por que a culpa quando se quer o que todos querem mais não tem coragem de arriscar, de ousar?
Eu quero bem mais da vida
Quero me desprender desse chão
Quero o vento no meu rosto
Desalinhando minhas madeixas
Quero o incontrolável, o imensurável e o impossível.
Eu quero viver
Quero viver
Todos os meus dias em segundos
Todos meus desejos realizar
Todas minhas fantasias experimentar
Todas minhas aventuras arriscar
Não quero nada que não seja simplesmente o amanha.
O planejado e o esperado não me seduzem
Eu quero ter a liberdade de escrever minha história
A liberdade dos artistas, dos poetas, dos boêmios e dos mendigos
Não precisa ser em prosa, em verso
Basta-me a vontade de viver
De rascunhá-la com prazer
Não quero pensar nos percalços
Nem medir as conseqüências (porque gosto do imprevisível.)
Já chega de tanto blábláblá, de tanto calcular
Quero desatar essas mordaças
Que me afogam a alma
Atormentam-me o espírito
E que só serve pra criar a desejável segurança que o admirável mundo novo nos imprime
Eu quero viver
Sem ter que prometer
Sem ter que deixar meu rastro
Sem ter que gerar expectativas e criar ilusões (principalmente em mim mesmo)

Quero refazer conceitos
talhar novos moldes
elaborar teorias inimagináveis e sem cientificismo
inverter o processo de criação
misturar água com vinho
falar em 33 rotações
fazer valer
cada instante
cada segundo
da minha etérea essência
da minha frágil lucidez
preciso reformular-me
nascer de novo
do ventre criativo
da liquidez humana
da embriagues que não mendiga sanidade
Assim, sinto-me já um feto
fluídico
o cordão perpassa meu frágil corpo
veiculo humano das insensatez terrenas
sinto frio
sinto calor
sinto medo
minha pulsação acelera-se
avisto um fume de luz
mas que luz?
Tentáculos gigantes se aproximam
São um, dois, três..
Num instante são vários ao mesmo tempo
Descubro novas sonoridades
Novas sensações
Onde estou?