quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010






Salvador Puig Antich... um nome desconhecido. Um coadjuvante na escrita da história. Um cidadão. Um ideário. Um filho. Um irmão. Um jovem. Um sonhador...
Alguém que ousou quando todos calaram. Alguém que encheu o peito de ar e a alma de coragem para lutar por um sonho, uma utopia coletiva, porém, praticada por poucos... Poucos ousaram desafiar o sistema, romper o muro atroz da brutalidade armada.
Como ele outros ousaram, abdicaram à própria vida em prol da libertação do povo. Luta armada tomada de ímpetos de medo e coragem, de sussurros e palavras de ordem, de passeatas e canções de protesto, de vitórias e pêsames. Jovens órfãos de pátria e pais órfãos de filhos: realidade mundial nos anos de 1960-1970. América, Europa, não interessa a que mundo se pertencia... a mão pesada da impunidade constitucionalizada era cosmopolita, além de sanguinária.
Pinochet, Franco, Geisel... Nomes apenas? Não! Mais do que nomes! Ações!
Salvador foi um jovem catalão que ousou mudar a triste realidade de seu país. Pagou com a vida.
Outros também tentaram escrever a história de seu país com outras tintas: João, Betto, Fernando, Mirangalha, Chico... Todos Salvadores a seu modo. Todos penalizados por atos institucionais.
Penso hoje na máxima do poeta: tudo vale a pena se a alma não é pequena, e lembro desses jovens revolucionários que lutaram pela redemocratização de suas pátrias, pelas garantias individuais e direitos coletivos, pela liberdade de expressão, por um mundo livre e melhor. Será que valeu a pena?
Às vezes, um pessimismo sobre humano toma conta de mim e me mostro descrente em relação às mudanças, sejam elas a níveis sociais, políticos, econômicos ou mesmo interpessoais.
Olho de soslaio a sociedade a qual faço parte e nem sempre me reconheço nela. Não me sinto parte dela.
Leio sobre a história do mundo, sobre a ‘evolução’ da raça humana, sobre os avanços tecnológicos, sobre a modernidade-mundo, que não só bateu à nossa porta, mas que também invadiu nossas vidas e, sinceramente, sinto inveja de nossos avôs. Chega a ser nostálgico essa falta de algo que nunca tive.
Hoje, esse pensamento não quer me abandonar. Sinto uma ardência inquietante no peito, uma vontade de gritar, mas sem se fazer ouvir. Só para sentir essa sensação esvair, abandonar-me.
Confesso que tentei aprender a mentir. Não me refiro a meias verdades. Me refiro às homéricas. Aquelas em que ignoramos nossos valores, nossas crenças. Aquelas em que fazemos ‘vista grossa’ para as irregularidades, para o suposto errado, para o mal. Refiro-me àquelas em que cometemos injustiças sem remorso. Que humilhamos nossos irmãos, que cruzamos os braços diante das vicissitudes dessa vida...
Refiro-me, finalmente, a pior de todas as mentiras: aquela que fazemos a nós mesmos. Enganar a si próprio! E essas mentiras, de tanto professadas, um dia acabam tornando-se verdades. É isso! Vivemos na era das não-verdades. Mas, de sacanagem, ouso não seguir essa linha. Só para azucrinar eu me nego a fazer parte desse ciclo. Me nego a sucumbir a essa hipocrisia que nos margeia hordienamente.

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