quinta-feira, 8 de abril de 2010

Parte ll - Nas incertezas de um caminho...


Quinta-feira à noite. Lá fora um céu enluarado pipocando de estrelas de todos os tamanhos e intensidades. Parecia uma orquestra celestial a premiar os jovens que ousassem sair à rua naquela noite tão estrelada e convidativa. Aos sonhadores não necessitaria de muita coisa para se realizarem e sairem por ai fazendo piruetas e cantando hinos de louvor ao Deus da natureza, do amor, das noites furtivas e dos amantes da boemia: Dionísio! Mas não era bem essa a realidade de todos os mortais. Fermina, por exemplo, encontrava-se enclausurada em sua alcova após um furo espetacular, tendo como únicas companhia uma garrafa de suco de uva integral, algumas batatas e um sentimento de nostalgia tão grande e sem explicações que isso a enlouquecia mais do que os designios de horas atrás.

São 19h. Falta apenas três horas para que o tão esperado encontro finalmente se concretize. Esperado porque nunca havia sido tão dificil encontrar uma pessoa, para Fermina, como nos ultimos dias. Há três semanas todas as tentativas de saída com Otávio haviam falhado.

Otávio é um homem altivo e de expressões fortes. Seu semblante remete mesmo ao nome que lhe deram de batismo - de um imperador romano. A primeira vista sua imagem inibe os mais tímidos. Seu timbre de voz é forte como o de um leão ferido. Seu olhar, esmagador. Sua postura lembra a de um general conquistador romano prestes a derrotar o inimigo e conquistar novos territórios aumentando assim seu poderio e influencia. Mas, se durante o governo de Otávio Roma conheceria a prosperidade, a paz e a estabilidade, não se pode dizer o mesmo das reações que o nosso Otávio contemporâneo ocasionava na jovem Fermina.

Há dias que os deuses confabulavam contra os dois. E todas as tentativas de se verem falhavam uma a uma. Primeiro Fermina teve que desmarcar porque estava às voltas com um projeto de trabalho. Depois, foi a vez de Otávio já que suas funções de pai solteiro assim lhe exigiam. As tentativas a seguir foram uma sucessão de desencontros que partiam ora de um, ora de outro, ao ponto de não se saber mais de onde vinha as fatalidades que os impediam de se ver. O certo é que esquecido os percalços anteriores, fecharam os dois que dessa noite não passaria e, assim, Fermina se arrumou mais do que o costume para ir ao trabalho. Tomou banho demoradamente. Ficou horas massageando óleos aromáticos pelo corpo. Depois se lambuzou um pouco mais com cremes para a pele, para o rosto, para os pés, para as mãos e para tudo o mais que a imaginação humana pudesse supor. Ao sair, finalmente, do banho, deu inicio a um novo ritual: fazendo-se de Cleopátra, a eterna rainha do Egito, dedicou mais alguns minutos a maquiar-se e corrigir aquilo que, se ainda não era perfeito aos seus olhos, ficariam brevemente. Por fim, foi escolher o que vestir. E nesse ponto Fermina demorou mais alguns longos e preciosos minutos. Optou por um visual básico mesmo, afinal, ia trabalhar e não pegava bem vestir-se como se fosse a uma cerimonia: escolheu um jeans claro, um all star branco e, para equilibrar a produção, uma camiseta nada convencional semelhante a essas desfiladas nas semanas de moda do centro-sul do país. E, acreditando que estava tudo como deveria, dedicou mais algumas voltas na frente do espelho para certificar se esta digna de um encontro. Assim sendo, segura de si, despediu-se de sua mãe, afagou sua cadela, sussurando ao seu ouvido algumas palavras, e foi trabalhar.

Já se passara 10 minutos das 22h. Otávio atrasara-se ou não viria mais. Fermina pensou:

- Se dessa vez um de nós desmarcarmos eu desisto e ponho um ponto final nessa história de uma vez por todas! O que não é pra ser não será e não há destino que resista a tantas fatalidades...

Acabado de pensar isso, o telefone toca. Era Otávio. Avidamente Fermina atende e ao ouvir as primeiras palavras vindas do outro lado da linha, seu semblante muda completamente. Sua vista, antes vigorosa e cheia de vida, vai definhando aos poucos. Sua voz enfraquece e mesmo quem não soubesse do que se tratava veria pelas expressões da moça que algo de desagradável havia acontecido.

- Fermina, é Otávio. Tudo bem?

- Tudo. E ai, não vens?

- Então... é sobre isso que quero lhe falar... bem... como posso lhe explicar...

- Seja claro, Otávio, por favor...

- Bem, é que estou preso em casa. Minha mãe saiu e levou as chaves do portão. Não tenho como sair com o carro...

Assim que Otávio acabou de proferir essas palavras Fermina sentiu um baque e um desanimo tão grandes que já parecia haver mais sentimentos entre ele do que de fato existia. Mas, não esqueçamos, estamos nos referindo à Fermina e se tem uma coisa que essa moça não demosntra é fraqueza ou que perdeu uma parada. Então, prontamente, ela se sai com essa:

- Ah, tudo bem, Otávio. Acho que não daria pra mim mesmo.Acordo cedo e já esta ficando tarde...

E, assim, se desfazia algo que nem havia começado ainda . Na volta pra casa Fermina promete pra si mesmo:

- Nem que ele implore de joelhos eu irei vê-lo novamente. Onde já se viu? Desculpa mais esfarrapada... pensando o quê??





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