quinta-feira, 18 de março de 2010


Quando chove gosto de fazer algo que, indubitavelmente, me remete a minha infância: gosto de sentir os pinguinhos de água no rosto. Antes, quando criança, isso era possível deitanda na cama, com o olhar fixo no teto.Hoje, com a difusão dos forros, não há mais 'brechinhas' entre as telhas que permitam tal façanha.Então, deito-me na cama e aproximo-me da ampla janela do meu quarto e vou abrindo-a, devagarinho, lentamente...equilibrando as baforadas de vento e gotas d'água que invadem meu quarto. É tão gostoso...Nessas horas me despreendo do mundo e das obrigações corriqueiras e me permito a simplicidade de um gesto qualquer, sem cobranças, sem metas a atingir, sem perspectivas...um gesto que começa e termina em si mesmo. Deixo-me ficar assim, nesse estado, por tanto tempo quanto me permitir a natureza - às vezes, adormeço nesse estado de pura contemplação; fico olhando os pingos cairem e escorrerem na vidraça; observo a folhagem das árvores se contorcerem com o vento lá fora; as poças d'águas que vão se formando uma a uma até tomarem todo o quintal; os cantos dos passarinhos que sobrevoam as roseiras e cupuaçuzeiros de minha mãe, sacudindo-se e glorificando-se com a água que cai do céu, batizando-os. E assim, com esses pensamentos, vou aos poucos ficando sonolenta...os olhos serram e, às vezes, os sinos tocam, me levando à morte temporária...ao sono...Quando me desperto, tempos depois, o mundo voltou ao normal e eu à realidade racional. É...ainda bem que há dias de chuvas.

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